terça-feira, 31 de agosto de 2010

O amor seja sem hipocrisia (Rom 12.9)















No dia 1° de abril de 2010, o elenco do Santos, atual campeão paulista de futebol, foi a uma instituição que abriga trinta e quatro pessoas. O objetivo era distribuir ovos de Páscoa para crianças e adolescentes, a maioria com paralisia cerebral. Ocorreu que boa parte dos atletas não saiu do ônibus que os levou. Entre estes, Robinho (26a), Neymar (18a), Ganso (21a), Fábio Costa (32a), Durval (29a), Léo (24a), Marquinhos (28a) e André (19a), todos ídolos super-aguardados. O motivo teria sido religioso, a instituição é espírita, o Lar Espírita Mensageiros da Luz, de Santos-SP, cujo lema é Assistência à Paralisia Cerebral. Visivelmente constrangido, o técnico Dorival Jr. tentou convencer o grupo a participar da ação de caridade. Posteriormente, o Santos informou que os jogadores não entraram no local simplesmente porque não quiseram. Dentro da instituição, os outros jogadores participaram da doação dos 600 ovos, entre eles, Felipe (22a), Edu Dracena (29a), Arouca (23a), Pará (24a) e Wesley (22a), que conversaram e brincaram com as crianças.


Diante deste fato, o Pastor ED RENÉ KIVITZ, da Igreja Batista de Água Branca, São Paulo/SP, fez uma análise profunda sobre o ocorrido e escreveu o texto abaixo que tenho o prazer de compartilhar:


No Brasil, futebol é religião

Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso, cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.

A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé. Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno; ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo; ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.

O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.

Mas, quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz. Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, faz com que os discordantes no mundo das crenças se dêem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.

Ed René Kivitz, cristão, pastor evangélico e santista desde pequenininho

domingo, 22 de agosto de 2010

O que deve ser feito e o que se deve fazer















Sábado de manhã. Acordo com um sol lindo batendo na janela e o meu namorado no meu quarto me dando um beijinho de bom dia. Com aquele rosto todo animadinho, de moletom e aqueles irresistíveis olhos verdes, ele me convida para andar de patins no Parque Vila Lobos, um lugar muito gostoso aqui em São Paulo. Ele já sabe que meus programas preferidos envolvem ar puro, natureza, gente, atividades diferentes, novidades etc.
Exito em responder... Por alguns instantes, faço uma rápida avaliação das atividades que precisam ser cumpridas no final de semana, como dar uma limpeza na casa, lavar e passar algumas peças de roupas, fazer unha, fazer os exercícios de inglês, estudar, além de trabalhar um pouquinho no meu projeto profissional pessoal. E, para falar a verdade, não é só isso. Tenho uma lista de coisas programadas para fazer que envolvem projetos, metas e objetivos, pois não foi à toa que me mudei para São Paulo.

Reconheço a importância de cada uma dessas tarefas, mas é sábado, o dia está lindo e o meu namorado de folga. Começo a viver um conflito entre o dever que precisa ser cumprido e o que vale a pena se feito de verdade. Tomo uma rápida decisão antes que eu resolva passar o dia inteiro dentro de um apartamento frio na capital paulista.

Levanto num pique e troco de roupa. O Gu havia até havia trazido uma calça legging para mim. Coloquei uma blusinha branca, um tênis, passei um filtro solar no rosto, fiz um rabo-de-cavalo no cabelo e fui para a rua. Tudo que eu gosto nesta vida, do jeito que eu gosto de estar...

Passeamos no parque, conferimos uma exposição do exército que havia no local e resolvemos nos arriscar no patins. Mesmo sem praticar há algum tempo, não fiz feio. Já o Gu... Ficou mais tempo sentado no chão do que de pé. Eu me diverti muito com isso, pois ele vive contando 'marra' das coisas que ele faz ou deixa de fazer. Aproveitei a oportunidade para dar o troco e tirar uma onda básica para cima dele.

Além dessa divertida situação, gostoso mesmo foi sentir a sensação de correr e deslizar ao mesmo tempo, do vento no rosto, de um caminhar mais leve e mais rápido... Como a vida poderia ser assim, um circuito organizado, amplo, sem muitos obstáculos, a gente contando com uma ferramenta que nos ajuda a dar e ganhar impulso na caminhada, e os parceiros de estrada, ao invés de competirem com você ou quererem te jogar no chão, compartilham suas limitações, oferecem apoio, dão diversas dicas, caem junto se for o caso, riem, se divertem, aproveitando cada situação para estender as mãos.

Uma pena não ser assim o mundo que a gente construiu. Que pena quando, realmente, não podemos escolher o que deve ser feito e o quê se deve fazer - as verdadeiras prioridades desta passageira vida. Nesta tarde de sábado, pude me dar ao luxo de pensar nessa questão. E não perdir a oportunidade de agradecer a Deus por estar naquele local, na companhia de uma pessoa tão especial.

Depois do passeio de patins, fizemos uma lanche - pastel com água de côco e garapa para o Gu - e procuramos uma árvore para descansar. Deitamos na grama e, juntinhos, ao som dos gritos das crianças, dos latidos dos cachorros e da bandinha do exército (que não tinha e menor cara de ser uma banda da Força Armada Brasileira), passamos toda a tarde. Teve gente que chegou a dormir no meu colo com aquela cara de bobo que só essa "terrível" pessoa sabe fazer.

Que delícia amar, namorar, sonhar, contemplar a natureza e apreciar cada detalhe especial que compõe este mundo. Sei que muitas coisas ruins também acrescentamos a ele, mas podemos transformá-lo, podemos mudar, mesmo que seja uma pequenina coisa. De todos os deveres que temos a cumprir, dois não deveriam ser esquecidos: tentar ao máximo ser feliz e deixar o mundo um pouquinho mais agradável de se viver. Mas no caso de ser sábado, há uma concessão na troca dos deveres. Eu escolhi curtir a companhia do meu namorado, deitar na grama e admirar um lindo pôr do sol.