quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Mulheres na prisão
















Imagem: Sorrow - Van Gogh

Esta noite, tive um sonho muito estranho.  Se eu não tivesse bastante clareza nas lembranças, eu diria ter sido um pesadelo. Mas não foi, pelo menos não para mim. Eu estava numa penitenciária feminina bem grande. Era hora do lanche, estavam todas sentadas naqueles bancos grandes contínuos que também acompanham as mesas. Umas já haviam terminado de comer e estavam ali sentadas, conversando, mas a maioria estava calada. Tive interesse em saber o motivo de estarem ali, o que conversavam e porque algumas não aproveitavam aquele tempo para compartilhar suas experiências. Minha primeira ação foi julgá-las como “criminosas”. Afinal de contas, se estavam numa prisão, certamente algum delito teriam cometido.

Sentei-me em uma das mesas e me aproximei calmamente de uma delas. Era a mais solta, parecia a “líder” do grupo. Percebi que seu rosto estava deformado, não sei se era um problema ‘de nascença’, proveniente de algum acidente ou, quem sabe, resultado do envolvimento em algum crime. Ela, apesar de falar tranquilamente, mostrava-se constrangida algumas vezes. Foi com ela que conversei durante algum tempo no meu sonho. A identidade não foi revelada, aliás de nenhuma delas, mas tive a oportunidade de conhecer um pouco da história de algumas. Esta mulher começou a me contar os motivos de cada uma por estarem ali. A primeira era casada com um homem violento, que chegava em casa bêbado todos os dias e batia nela. A segunda tinha um marido machista que a violentava, pois dizia que era obrigação dela servi-lo como mulher em qualquer hora, de qualquer jeito. 

Uma outra estava com o marido desempregado, trabalhava dentro e fora de casa como faxineira, cuidava dos filhos com dedicação, mas vivia muito cansada, não tinha nenhuma alto estima. Uma delas até tinha uma situação financeira confortável, mas tinha que servir ao seu marido, alto executivo, nos compromissos sociais e profissionais, sem reclamar ou sem receber uma manifestação de afeto espontânea do seu companheiro. Vivia vítima de uma frieza e indiferença total, apesar de dividirem o mesmo lar. Conheci também a história de uma mulher que gozava de uma vida luxuosa, mas seu filho se envolveu com as drogas na época da adolescência, seu marido e o próprio filho a culpavam por aquela situação infernal.

Haviam mulheres maltratadas, desvalorizadas, impedidas de trabalhar fora, mas que não contava com um recurso do marido, nem para comprar produtos de higiene íntima, Muitas vezes, tinha que pedir a amigas e irmãs. Havia uma ainda, por incrível que pareça, impedida até de ir à igreja. O marido achava que era para procurar o quê fazer na rua e isso ele não admitia. Eram tantos casos, tantas situações insuportáveis, de sofrimento intenso, mas abafados. Segundo a mulher que conversava comigo e me contava caso por caso, a maior parte dos motivos do silêncio era o próprio medo, a falta de apoio dos familiares, o desejo imenso de não deixar os filhos perceberem a situação ou, em alguns casos, a vontade de preservar a família. Talvez, arrisco julgar, até a esperança de que um dia as coisas mudem e a situação melhore.  

Fiquei atônita com todas aquelas histórias, assombrada com as marcas que aquelas mulheres carregavam. Algumas tinham mesmo hematomas pelo corpo, a cabeça capisbaixa, os olhos cheios de lágrimas e uma tristeza marcadamente estampada na face.  Sim, aquelas mulheres viviam em prisões, das mais diversas formas e por motivos variados. A submissão daquelas mulheres, condenadas a uma insatisfação sem fim, era de ordem familiar, doméstica, financeira, moral e até espiritual. 

Tamanho foi o meu remorso ao perceber meu julgamento injusto que minha única atitude foi rezar e interceder por aquelas criaturas. Deus é Pai e Senhor Nosso, mas minha oração foi destinada a uma das maiores mulheres que já existiu na face desta terra, Maria. A mãe de Jesus, nosso Senhor, a mãe de todos os homens, serva fiel, exemplo a ser seguido, luz a ser contemplada. Sofreu uma das maiores dores que uma mãe pode suportar  – a perda de um filho de forma injusta e violenta – e se manteve de pé, firme nos propósitos de Deus, acolhendo, servindo e trabalhando. Quanta admiração tenho por esta mulher, que creio hoje esta no céu, trabalhando intensamente ao lado de Jesus, seu filho amado, intercedendo, principalmente, por todas as mulheres deste mundo, amparando-as nas caminhada, fortalecendo-as nos desafios e as enchendo de esperança.

“Maria, rogai por nós pecadores!”

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