sábado, 7 de maio de 2011
Vaidade...
Perceber a vida, os detalhes, os comportamentos, as ações dos outros e também as suas próprias (principalmente as suas), pode nos trazer grandes descobertas. Descobertas que trazem crescimento, transformação ou, em alguns casos, angústia. Depende da forma como você encara os fatos. Eu prefiro ter sempre o foco no crescimento, na evolução, no enriquecimento moral e espiritual que, na minha opinião, deveria ser o principal objetivo do ser humano.
Há pouco tempo, fiz uma grande descoberta. Uma descoberta interna, íntima, que diz respeito ao tipo de pessoa que sou. Mas como não me contenho em guardar em mim mesma, em silêncio, vou compartilhar mais essa experiência. Acho que pode ser útil, pois acredito que o assunto seja a causa de diversos males humanos. A saber: a vaidade!
Segundo o dicionário online de português, vaidade significa "desejo imoderado de chamar atenção, ou de receber elogios; ideia exageradamente positiva que alguém faz de si próprio; presunção; fatuidade; hábito de se gabar; coisa vã; fútil; futilidade; alarde; ostentação; vanglória; presunção ridícula, tola; altivez; arrogância, entre outros tantos nomes que podemos utilizar para substituir esta palavra tão "desprentesiosa".
Eu não vou discutir neste post o sentido positivo que a palavra "vaidade" que ela também tem, pois não é o caso. Mas saibam que ela é muito considerada quando a relacionamos à auto-estima, à valorização de si próprio, ao cuidado que devemos ter (sempre) com a gente mesmo e a uma apreciação favorável por si próprio, porém totalmente equilibrada. Mas não é esse sentindo que eu quero abordar. É no sentido negativo mesmo. Outro dia, li um artigo sobre "Teomania", ou seja, a mania do ser humano de querer ser Deus. Vou registrar alguns trechos aqui:
Temos que admitir que os problemas mais agudos da humanidade ainda não foram cuidados. Sou da opinião (Noberto R. Keppe, psicanalista) que o ser humano está demorando muito para colocar o dedo em suas feridas mais dolorosas; e elas são: sua mania em querer ser Deus, sua empáfia e arrogância (...) O maior problema do homem não são os erros que ele comete, mas o seu desejo de ser perfeito, de preferência um outro deus (teomania) - esta é a fonte de todos os males que a humanidade vem passando, desde que Adão e Eva "renunciaram" a sua condição humana e, de maneira muito sutil, atribuimos-lhe as falhas que cometemos. Por esse motivo toda a organização social visa à repressão aos erros e jamais à conscientização da arrogância, megalomania e soberba. Fizemos uma sociedade baseada na nossa fantasia, para tentar viver na ilusão (...) Se verificarmos as organizações sociais, políticas econômicas, científicas, religiosas, filosóficas, verificaremos que todas elas tem um só intuito: a egolatria do ser humano (...) Dando enfoque à marcha da civilização, do Oriente Antigo aos dias de hoje, pode-se dizer que o que realmente determina a conduta do ser humano, sua maneira de agir e pensar, tem origem em seus sentimentos. Se predominar o amor na personalidade, tudo o que se pensar e fizer será certo; mas se for inveja, o ódio, a megalomania e, principalmente, a teomania que comandarem, a história individual e coletiva terá um rastro muito negativo e abominável ao redor.
A gente fala de Deus, diz que acredita e coisa e tal, mas ainda tentamos controlar as coisas, tentamos conduzir os fatos e as situações do nosso jeito, geralmente, favorecendo sempre o nosso ego e não o próximo, não o outro. É o “eu”, sempre, em primeiro lugar. O psicanalista Noberto R. Keppe, complementa esse assunto em outro artigo. Para ele, todo o sofrimento em nossa existência é proveniente do afastamento do Criador. “Não existe outro, pois tal atitude constitui uma rejeição à vida, à realidade e à beleza que formam nossa estrutura fundamental. Por exemplo: sempre pensamos que temos a vida dentro de nós e não que estejamos dentro da vida. Quando se fala que Deus tem todo o poder para realizar qualquer coisa, e deparamos com a incrível agressão que os seres humanos fizeram à Cristo, pensamos que tal fato poderia ter sido evitado por Ele; mas como concedeu total liberdade ao homem, não poderia ter tomado outra atitude senão aguentar conduta”, comenta.
Keppe continua: “Estou dizendo que o Criador quis, inclusive, suportar a liberdade total. Tendo também se tornado homem, sabia exatamente qual seria o seu destino, e como o seu amor era absoluto, aceitou o terrível martírio de sua paixão e morte. O próprio cristianismo foi desde o seu início ensinado de maneira invertida; Cristo realizou e falou de um modo, e seus seguidores imediatos realizaram e disseram, muitas vezes, o contrário, mesmo que muitos deles tivessem sido santos. O mestre dos mestre se indignava com a atitude hipócrita dos fariseus (Mateus, 23) e os combatia veementemente; os cristãos posteriores irritavam-se com a chamada concupiscência, reduzindo toda a pregação ao combate do chamado ao materialismo.
É evidente que a verdadeira ideia cristã foi bastante distorcida, passando-se a dar atenção a um fator secundário e olvidando o mais importante, que é a soberba e a magalomania; a instituição cristã foi eivada com um espírito negro ao combater um fator contra o qual era quase desnecessário lutar. E o resultado foi a preservação do paganismo, em uma pretensa sociedade espiritualidade que até hoje é injusta e hipócrita, sejam os leigos, os militares e os chamados funcionários religiosos. Toda vez que se dá uma importância muito alta ao erotismo, ele cresce na vida de uma pessoa ou sociedade, apagando toda a consciência que deveria estar voltada para os elementos mais fundamentais da vida; na própria análise individual, se o psicanalista quiser tratar o sexo pelo sexo, a gula pela gula, só aumentará o desejo fisiológico, desde que os elementos físicos servem de esconderijo para a inveja, o ódio, a soberba.
A ideia de se procurar o que fazer para corrigir o que somos é inteiramente invertida, porque tudo o que fizermos já é a manifestação do que o que temos; de maneira que devemos sempre procurar ver em nossa conduta o que há de errado, porque o que é certo está também lá na base. A pessoa que deseja se ver perfeita quer ser um Deus, enquanto que o indivíduo que aceita olhar para suas imperfeições admite que é um ser humano e acata sua condição de dependência à realidade, de dependência ao Criador.
Quem é dominado pela sua arrogância é dominado pelas pessoas mais arrogantes; e a pessoa dominada pela arrogância é dominada pelo artificialismo. A humanidade sofre e luta porque renunciou à situação de felicidade que tinha no começo da sua criação; podemos afirmar que todo o esforço que temos que realizar agora é no sentido de voltar à situação antiga que tínhamos – e só depois partir para o desenvolvimento científico e social que já deveríamos ter alcançado. Estou dizendo que no momento temos que entrar em contato com os erros que cometemos para que possamos iniciar a jornada para a qual fomos criados". (Noberto R. Keppe)
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