domingo, 17 de janeiro de 2010

Alerta: excesso de bagagem!!!



Tenho 30 anos, ainda não tenho passaporte, mas minha carteira de trabalho foi assinada pela primeira vez aos 18 anos, e essa foi a primeira vez que tirei férias (remuneradas). Trinta dias, praticamente, inteirinhos de bobeira, sem nenhum tipo de compromisso. Não fiz nenhuma viagem extraordinária. Como agora moro em São Paulo, decidi passar esses dias de folga em Minas com a minha mãe, meus irmãos, meu cachorro, amigos, vizinhos etc. E também reservei uma semana para visitar o meu pai e meu irmãozinho caçula em Porto Seguro.

Estava quase me acostumando a acordar por volta das 10 horas da manhã todo dia, saborear a comidinha gostosa e fresquinha da mamãe, ver Vale a pena ver de novo deitada no sofá e depois tomar um cafezinho preto e um pãozinho quente. Que delícia!

Eu estou tentando arrumar minhas malas, retorno hoje à noite (vou aproveitar até o último minuto), mas não sei onde enfiar tanta coisa boa, tanta coisa vivida e revivida, tantas experiências, descobertas, redescobertas, lembranças especiais e o sentimento de saudade que já toma espaço.

Entre tantas ocasiões, situações e felizes recordações, tento colocar na mala o gosto maravilhoso do pudim de leite condensado da minha mãe. Não tem igual, e nem parecido. É tão bom , tão bom, tão bom, que dá vontade de arrumar um namorado com o gostinho da sobremesa. Já pensou? Hum... Tento levar também o barulhinho das molas da minha antiga cama. Hoje meu irmão dorme nela, mas este colchão antigo foi meu companheiro durante quase 30 anos. Apesar de ter feito xixi na cama durante muito tempo e ter chorado muito na minha adolescência de tanto ficar de castigo, ele está em perfeitas condições de uso. Eu aproveitei para matar a saudade dele enquanto meu irmão foi para Guarapari/ES. Eu adoro dormir ouvindo o barulhinho das molas estalando quando a gente se mexe. Acostumei com esta canção de ninar.

Senti-me novamente uma criança debaixo da proteção da minha mãe, batendo papo na rua onde eu cresci e ficando boa parte do tempo com os meus irmãos. Fiquei muito feliz quando a Adriana decidiu abrir mão (temporariamente) do namorado e ficar mais tempo com a gente. Colocamos todo o papo em dia, deu tempo até de discutir, mas companhia de irmão não tem nada que se possa comparar. E o que dizer de assitir um filme romântico com o Dudu? A gente dava gargalhada por se dar conta que já havíamos sentido e feito uma porção de bobagens por conta de nossas apaixonites. Uma coisa é certa: quando junta a Adriana, o Dudu e eu, ou a gente arruma uma verdadeira discussão ou caimos na gargalhada, principalmente se o alvo for a mãe. Tadinha!

Lembro tanto deles quando me divirto que queria ter levado o Dudu para assitir a peça "O dia em que Alfredo virou a mão", encenada pelos meus queridos amigos de JF. Tive sorte de estar na cidade durante a temporada. Cheguei a fazer uma oficina de teatro com eles, mas não tenho o menor talento para a coisa. Mas não minha amiga Lyvia... Ela me surpreende a cada apresentação que tenho a chance de conferir. Dei um grande abraço no meu querido "professor" que tanto se esforça para fazer as pessoas felizes e realizar bem seu trabalho. Ele perdeu uma pessoa muito querida recentemente. Uma pessoa que acompanhava de perto toda a produção e pós-produção dos espetáculos. Lembranças que levaremos para sempre em nossos corações, como ver o dia amanhecer com o meu amigo Jeff depois de ter conversado a noite toda...

Mas retornando à bagagem, quero levar comigo o jantarzinho que minha amiga Fernanda, recém-casada, preparou para mim e para a Gisele na casa nova. Quero levar meu passeio com a Gi no Manoel Honório, tomando o sorvete da Patropi, conversando, contando as novidades, planejando a vida, desabafando, rindo, lamentando e discutindo questões morais e espirituais. A Gisele é um doce, apesar de seus sentimentos intensos e dramáticos, ela consegue acalmar o coração de qualquer ser humano. A Gigi é um doce.

Por tocar no assunto espiritual, como não incluir o fato de ter ido à Casa Espírita assistir uma palestra com minha mãe, minha irmã e meu irmão? A engraçadinha da Adriana ainda me fez pagar o maior mico quando apontou seus dez dedos para mim na hora em que o palestrante perguntou se havia ali alguém com vontade de se casar. Como meu rosto ficou "marcado", no final o senhor veio me "cutucar" com a brincadeira. Eu respondi com muita gentileza, mas também aproveitei para "cutucá-lo" dizendo que eu era membro de uma igreja batista em São Paulo. O palestrante havia feito um comentário sobre os evangélicos e sua relação com a Bíblia durante a palestra. Nada demais, apenas um comentário natural, bastante respeitoso por sinal. Mas a Raquel, geralmente, não deixa passar uma, ainda mais quando o assunto é religião. Conversamos rapidamente de uma forma muito animada e proveitosa. Assim também como eu converso com o padre da paróquia onde eu cresci e fui educada. Em um domingo das minhas férias, fiquei extremamente feliz ao chegar na Igreja e ser convidada para participar da liturgia. Eles me ofereceram a Oração da Comunidade, exatamente a parte que eu mais gostava de ler quando trabalhava na Pastoral da Comunicação. Eu havia ido para rezar, assistir à missa e rever os amigos, mas de repente me senti como se ainda fizesse parte daquela comunidade. Foi emocionante.

Mas uma das coisas mais simples que eu pude reviver neste período, e que hoje faz uma diferença tão grande para mim, é o fato de apontar a cabeça na janela, debruçar no beiral do terraço ou simplesmente chegar o nariz no portão e já encontrar um vizinho para cumprimentar ou jogar conversa fora. É o meio mais rápido de saber das notícias políticas, econômicas e sociais da cidade e/ou dos moradores. Infelizmente, isso é verdade, mas também tem o outro lado, um lado muito compensador. Logo no início do ano, recebemos uma ligação às três horas da madrugada de um vizinho que precisava de ajuda, alguém da sua família estava passando muito mal. Minha mãe, que é enfermeira, nem trocou de roupa, saiu correndo do jeito que estava para atendê-lo. Depois de alguns minutos, ela voltou, trocou de roupa, pegou a bolsa e foi acompanhá-los até ao hospital. É muito bom sentir essa segurança e ver a solidariedade de perto e de forma concreta.

Tão bom também é ver e ficar admirando o céu da minha cidade todo iluminado e enfeitado de estrelas. São tantas, parecendo tão próximas, que não dá vontade de tirar os olhos. Eu tenho mesmo este costume, e por tê-lo é que levarei comigo uma surpreendente emoção: vi uma estrela cadente no céu da Bahia. Uma estrela cadente de verdade como há muito tempo eu não via. Claro que fiz um pedido. Um não! Dois, três, quatro... Não podia deixar de perder a oportunidade. Além do mais, esses pedidos vão direto para o dono do céu, aquele que criou a estrela, a verdadeira e mais brilhante luz do mundo. Quer saber quem? Procure a resposta dentro do seu coração. Certamente, irá encontrá-la.

Dentro do meu coração também ficou a marca de uma sensação especial que ganhei logo que cheguei na rodoviária de Porto Seguro. Como colocar dentro da mala a emoção de rever meu irmãozinho, agora com sete anos, e receber um carinhoso e espontâneo abraço dele? Segurei a onda para não me emocionar, mas no dia da despedida não teve jeito... Cheguei em Juiz de Fora muito emocionada. Difícil amenizar as lembranças do período em que passei com o meu pai e com o Giovane. Cheguei a perder a fome. Inacreditável ver ainda meu pai vigiando a quantidade de “aí” que eu solto quando estou contando uma história ou um caso. Desde criança, ele tenta corrigir esse vício em mim. Quando percebe que não há solução, faz piadas e começa a rir. Eu logo me irrito e até paro de falar o bendito “aí”. Coisas que não mudam por mais que o tempo passe.

Durante o passeio, visitei a Primeira Igreja Batista de Porto Seguro. Conheci um pouquinho do trabalho da instituição e fiquei animada por saber que meu pai e o Giovane podem contar com uma casa tão organizada e abençoada. Espero que meu pai tenha consciência e leve meu irmãozinho lá. Meu pai ainda se diz católico, mas é daquele tipo que vai na missa uma vez na vida e outra morte. Ele precisa de uma proposta espiritual transformadora, precisa obter conhecimento da Palavra para basear a sua fé e sustentá-la. Aliás, acho que estamos todos precisando disso para solidificar em pontos mais altos nossos valores morais e inserir concretamente a prática cristã em nosso dia-a-dia. Por bondade de Deus, ganhei uma amiga na igreja que prometeu me ajudar nas orações a favor do meu pai e do meu irmão. E eu ainda poderei manter contato com ela direto de São Paulo.

A bagagem está muito grande, mas ainda tenho que colocar muitas coisas na mala. Uma delas é a sensação de bem-estar e liberdade que sinto ao caminhar no meu antigo circuito à beira do rio Paraibuna. Sinto falta das minhas caminhadas depois do trabalho. Mas que bom que nessas férias pude reviver esta atividade e este prazer. O prazer de encontrar e fazer amigos enquanto a gente pratica um exercício físico à luz do luar. E por conta desses encontros casuais, o tempo é sempre extrapolado. Desta última vez, conheci o Alex, rapaz de 27 anos que estava andando de bicicleta e, claro, não perdeu a oportunidade de passar uma sutil cantada. Sabe como terminou este “encontro”? Eu tentando reacender a sua fé em Deus e fazê-lo ver a vida com mais otimismo. Ele confessou que ainda era apaixonado por uma ex-namorada e que não sabia o que fazer, pois ela está namorando outra pessoa. Não tenho condições de resolver problema de ninguém, muito mal dou conta dos meus, mas a conversa foi bem legal, e no final ele me agradeceu. Eu voltei para casa tão cheia... Cheia de não sei de quê, mas era de algo bom.

Uma sensação boa e tranquila também me preenche quando eu encontro meu amigo de elo espiritual, o Léo. Desfrutei da sua companhia o máximo que pude. No Natal ele veio em minha casa e em uma segunda-feira a gente foi lanchar no Garotão Lanches, lugar tradicional para receber a galera do bairro depois das baladas. Quantas vezes vi o dia amanhecer ali junto com os amigos e relembrando cada momento engraçado da noite? Por último, a gente foi dar uma volta no Manoel Honório, escolher um vinho, tomar uma água de coco, “torrar” no sol e, mais uma vez, declarar o sentimento que sentimos um pelo outro. Cheguei a imaginar como seria a vida ao lado dele aqui na Terra. É, parece coisa de louco falar dessa maneira, mas somos assim... Por isso combinamos tanto e temos tantas afinidades, apesar dele ser uma pessoa extremamente iluminada.

Levarei hoje (e sempre) as conversas malucas e as risadas que eu e minha amiga Michelle damos sempre que nos encontramos. E eu fico tão feliz em saber que essa é uma das primeiras coisas que a gente dá um jeito de fazer quando chega a Juiz de Fora, além de correr para o Marcelo fazer luzes nos cabelo, claro! Quando encontro com a Michelle, parece que os problemas ficam menores. Ela é prática, rápida, determinada e divertida. A gente se completa de uma forma bastante interessante: ela me ajuda muito nas questões profissionais, materiais e de progresso pessoal. Eu, em contrapartida, tento dar alguns conselhos para sua vida emocional, espiritual e para os relacionamentos amorosos. A gente tem diversos pontos em comum e outros tantos incomuns, mas a gente se une e tem uma afinidade incrível na hora de rir, se divertir e desabafar. Temos questões complicadas na família e isso também entra no bolo. Mas ontem ela se superou, ficamos até três horas da manhã acordadas e falando sem parar. O assunto com a gente nunca acaba, vai desde acontecimentos críticos, fúteis até os mais absurdos, como o “Beijo Mágico” que ela sugeriu que eu tentasse descobrir. Beijo mágico... A gente riu demais por causa disso. Dormimos tentando entrar em contato com os nossos anjos da guarda.

Sinto-me feliz e aliviada por saber que meu anjo, independente do tamanho da mala e quantidade de bagagem, vai comigo para onde eu for. Espero que ele fique ao meu lado durante todo o percurso de volta. Não é fácil se despedir, a gente teta adiar a hora, o momento de entrar sozinha dentro do ônibus de todas as formas, mas não há como. A vida segue. Acredito que Deus tem planos para a gente, para cada um de seus filhos, Ele só quer nos dar o melhor e nos ensinar a superarmos os desafios, sermos mais fortes e mais humanos (digo, espiritualizados). Por ter esta certeza e esta confiança, eu embarco novamente rumo a São Paulo deixando para trás muitas coisas valiosas que fazem com que minha vida seja de verdade um grande, belíssimo, emocionante e abençoado presente de Deus.

Jesus, muito muito muito obrigada!!!

Um comentário:

Michelle Araujo disse...

ADOREI...ACHO QUE TEMOS UMA SINTONIA MESMO, AMIGA!!!
CREIO QUE SOMOS IRMÃS DE CORAÇÃO....
BEIJOS E SE CUIDA.