terça-feira, 20 de abril de 2010
Não gosto do transitório, do provisório. Gosto do Eterno...
Hem? Hem? O que mais penso, testo e explico: todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas. Por isso é que se carece, principalmente, de religião: para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara da loucura. No geral. Isso é que é salvação-da-alma. Muita religião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio. Uma só, para mim é pouca, talvez não me chegue. Rezo cristão, católico, embrenho a certo. E aceito as preces de compadre meu, Quelemém, doutrina dele é de Cardeque. Mas, quando posso, vou no Mindubim, onde o Matias é crente, metodista: a gente se acusa de pecador, lê alto a bíblia, e ora, cantando hinos belos deles.
Tudo me quieta, me suspende. Qualquer sombrinha me refresca. Estremeço. Como não ter Deus?! Com Deus existindo tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de ter gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. (...) Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois, no fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma! Porque existe dor. E a vida do homem está presa encantoada - erra rumo, dá em aleijões como esses, dos meninos sem pernas e braços. Acho que o espírito da gente é cavalo que escolhe estrada: quando ruma para tristeza e morte, vai não vendo o que é bonito e bom.
Guimarães Rosa - Poeta mineiro
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